Domingo 03 de Abril de 1932, o jornal “O Liberal” anunciava o início da Semana Santa, e as cerimonias religiosas por vir.
Começando com a procissão de Ramos em capela afastada os participantes levavam ramos ou folhas de palmeira e partiam em cortejo em direção à Igreja Matriz, local de missa solene, possivelmente acompanhados de banda de musica como em algumas cidades históricas do Brasil, pois, como indicava o programa das celebrações, contava-se com a presença do maestro Antônio Marmora Filho.
Associações e ordens religiosas locais participavam ativamente, assim como centenas de fiéis que durante a semana, todas as noites, se dirigiam à Igreja Matriz a fim de participar dos oficios.
Na quinta-feira Santa, às 19:30, havia a cerimonia tradicional do Lava-pés, simbolizando a humildade, o serviço.
Na sexta feira, às 21 horas procissão do Enterro: a imagem do senhor morto seguindo processionalmente com uma figura feminina a entoar o canto da Verônica, que consistia em cânticos e lamentações em torno da dor do Cristo que padece pela humanidade, ao longo do caminho se evocava a dor desesperada. Ser realizado a noite, em procissão com cântico e lamentações, dava ao ato uma teatralidade própria, ressaltando o espirito penitencial da semana.
Domingo, 5 horas da manhã a procissão da Ressurreição, celebrando o Cristo que ressuscitou encerrava a festa do povo, o teatro da religião, com a presença reveladora de um missionário de Pirapora, local de tradições populares que anos mais tarde encantariam os olhos de Mário de Andrade e Levi Strauss.
Depois de terminada a Semana Santa, era iniciado na capela no alto da rua Ricardo Vilela, de onde partiram diversas procissões, as obras de reconstrução deste Santuário que segundo o jornal “O Liberal“ era “...a mais antiga demonstração de fé erigida pela população de Mogy das Cruzes em tempos immemoriais. Depois de alguns anos em ruina, um grupo de pessoas devotas da Santa Cruz e zelosas das tradições históricas desta cidade tomou a peito a reconstrução da legendaria capella...”.Para o andamento das obras se recebia donativos em materiais e realizavam-se quermesses.
Aproximava-se o mês de junho e outros devotos faziam os preparativos para a festa de Santo Antônio, que ao realizar se, tinha como característica os festeiros com o nome Antônio e para o ano seguinte haviam sido escolhidos 13 Antônios para preparar a festa.
Não só as associações religiosas que viviam a Semana Santa e a paixão de Cristo, mas os devotos da Santa Cruz, devotos e festeiros de festas religiosas diversas, também compartilhavam o sentimento de paixão traduzido como emoção, sentimento intenso, entusiasmo ou apego por aquilo que tinha um significado pessoal.
Da mesma forma podemos dizer que este início do ano de 1932 assistia a manifestação das paixões políticas que conduziriam ao movimento armado de julho de 32, os animos se acirravam, e na cidade era palco de disputas e interesses locais a recém estabelecida Associação Operária de Mogi das Cruzes.
Na próxima postagem retornaremos ao tema da Associação Operária e a Liga Revolucionária.
Fonte:AHMC, jornal “O Liberal”, edições abril, maio, junho de 1932
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