Pelos morros dos sete pecados mortais até Nossa Senhora da Escada
Páteo da Freguesia da Escada, outrora aldeamento indígena
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Distante de Mogi das Cruzes alguns quilômetros, em direção a Guararema, encontramos um lugar chamado Freguesia da Escada.
Nossa história começa quando caminhos, fazendas e habitações começam a figurar na paisagem da região da Freguesia da Escada.
Desde que fora descoberto ouro nas Minas Gerais e esta capitania tornou-se um dos centros de interesse na colônia, o caminho do Vale do Paraíba, subindo a Mantiqueira, era o mais utilizado e dele já se dava o roteiro ao descrever, no início do século XVIII, a etapa Mogi das Cruzes - Jacareí citando o ribeirão Guararema ladeando o caminho que seguia até a Escada.
cadeirinha de transporte |
Na verdade a aldeia de índios de El Rei,
citada neste relato, era um aldeamento povoado por indígenas transportados para
esta região por iniciativa particular, ficando o local sob a invocação de Nossa
Senhora da Escada conhecido como Aldeamento da Escada. A expressão aldeamento é
utilizada pelo geógrafo Pasquale Petrone para definir núcleos de habitação com
origem religiosa ou leiga, que foram criados, diferente dos espontâneos como as
aldeias indígenas, pois, “implica a
própria noção de processo de criação de núcleos ou aglomerados, portanto,
inclusive, a idéia de núcleo criado conscientemente, fruto de intenção objetiva” dentro do processo de colonização
do Brasil.
Fundado por iniciativa privada na primeira
metade do século XVII, este aldeamento fazia parte das Aldeias do Padroado
Real, sendo regidos por seculares e passando em 1735 para a administração dos
franciscanos.
Segundo o historiador Boris Fausto a Igreja
“tinha em suas mãos a educação das pessoas e o controle das almas, na vida
diária era um instrumento muito eficaz para veicular a idéia geral de
obediência e, em especial, a de obediência ao poder do Estado. Na atividade do
dia a dia, silenciosamente e às vezes com pompa, a Igreja tratou de cumprir sua
missão de converter índios e negros, e de inculcar na população a obediência a
seus preceitos, assim como aos preceitos do Estado”.
Além das atividades do clero secular, Boris
Fausto define a atuação do clero regular que são as ordens religiosas. “A maior
autonomia das ordens dos franciscanos, mercedários, beneditinos, carmelitas e
principalmente jesuítas resultou em várias circunstâncias. Elas obedeciam às
regras próprias de cada instituição e tinham uma política definida com relação
a questões vitais da colonização, como a indígena. Além disso, na medida em que
se tornaram proprietários de grandes extensões de terra e empreendimentos
agrícolas, as ordens religiosas não dependiam da Coroa para sua sobrevivência”.
As ordens religiosas assentavam-se na região,
intensificando a ocupação de terras a partir da vila de Mogi das Cruzes e em
direção ao Vale do Paraíba, deste modo, são agregadas mais terras obtidas por
sesmaria em 1744 e concedida aos índios da aldeia de Nossa Senhora da Escada
sob administração dos padres de São Francisco onde a gleba constava de “uma légua de terras na frente da dita aldea
pelo sertão a dentro a saber do ribeirão do Coronel até a pedra que chamam de
Itapema”
Com a crescente expansão da colonização, os
aldeamentos ganharam importância enquanto núcleos habitados por indígenas os quais
se viam compelidos a trabalhar nos espaços de posses de colonos. Como declarava
em seu testamento um sitiante da região em 1703, que dizia ter ”um escravo por
moça se acha com um filho macho. Possuímos de nosso serviço sete almas de
cabelo corredio”.A proximidade destes dois tipos sociais (colonos e índios)
resultou na subordinação do indígena ao colono. A partir do século XVIII os
aldeamentos “constituíram-se na mais
importante reserva de mão de obra que a administração podia utilizar
livremente...especialmente a partir do governo de Morgado de Mateus...que
passou a empregar maciçamente o serviço dos indígenas aldeados” dizia
Petrone.
Além dos trabalhos junto aos colonos a
administração pública também impunha aos indígenas aldeados na Escada trabalhos
na abertura dos caminhos para o “Cubatão de Santos” e para o Rio de Janeiro.
Os colonos utilizavam os índios como
jornaleiros (trabalhadores por jornada). Era um contato que se estendia além do
trabalho individual, envolvia a família indígena e mostrava outro grau de
submissão: a desintegração da cultura indígena, o que se revelava em situações
como a que indicava o padre superior da Escada ao pedir para as autoridades “sustar o caso envolvendo duas indígenas e
moradores vizinhos”.
Em outro relato de viajante, o conde de
Azambuja (1751), é possível também notar, além dos aspectos físicos do relevo
da região, outro aspecto marcante do trabalho no aldeamento, ou seja,
existência de matéria prima que possibilitava o trabalho com o barro.Dizia o
relato: “...todo caminho é por morro mui
alto, muito apique, e de uma qualidade de barro como sabão, quando chove”.
Freguesia da Escada retratada por Thomas Ender 1817 |
No século XIX vários viajantes como Spix,
Martius, e Saint Hilaire, nos levam a conhecer mais das feições da população e
a finalidade que este espaço fora adquirindo.
Cafusa 1817 |
Se no século XVIII grande parte dos
aldeamentos apresentava-se em decadência, com o Aldeamento da Escada não seria
diferente. No entanto ao transformar os aldeamentos em freguesias abriu-se a
possibilidade da instalação de posseiros na região e a desagregação final da
vida indígena e seu referencial cultural.
Em 1822 (apenas cinco anos depois da passagem
de Spix e Martius), na segunda viagem para São Paulo, August de Saint Hilaire
descreveu Nossa Senhora da Escada como outrora aldeia de índios: “Existem tão poucos hoje que não percebi um
único nem na cidade nem nos arredores. A maioria das casas cerca uma grande
praça e pode-se avaliar quanto é pobre pelo fato de que inutilmente pedi
aguardente de cana em várias vendas.”
Hoje o aldeamento e os índios tornaram-se
lembranças, e agora freguesia, a Escada abriga restaurantes.
(1) A cadeirinha foi um dos meios de
transportes mais utilizados no Brasil Colonial, atingindo boa parte do século
XIX.
Para saber mais
Spix e Martius - zoólogo e botânico
respectivamente, percorreram de 1817 a 1820 o Rio de Janeiro, São Paulo, Minas
Gerais, chegando até o vale do Amazonas. Além dos aspectos naturais do país,
relataram e retrataram a grande diversidade humana existente. Foram
acompanhados pelo pintor Tomas Ender.
Thomas Ender, , pintor austríaco, que
acompanhava Spix e Martius retratou uma cafuza entre o aldeamento da Escada e
Sabaúna e pintou a freguesia.
Auguste de Saint Hilaire, naturalista,
empreendeu viagens pelo território nacional de 1817 a 1822. Em suas viagens
descreveu o aspecto dos lugares onde passou e as condições sociais das populações.
FAUSTO, Boris, História do Brasil, Cia das Letras, SP, 1996
GRIMBERG, Isaac - Viajantes ilustres em Mogi das Cruzes, S.P, Edição do autor, 1992
PETRONE, Pasquale, Aldeamentos paulistas, Edusp, SP, 1995
REIS, Paulo Pereira, Caminhos de penetração da capitania de São Paulo in Anais do
Museu Paulista, tomo
XXXI,1982,S.P.
Fontes
Museu Paulista,SP, "Sesmarias", coleção Arquivo Aguirra
Arquivo Histórico de Mogi das Cruzes, Acervo do Fórum, termo de reconciliação
Arquivo Histórico de Mogi das Cruzes Acervo do Fórum, termo de conciliação
Fonte
da imagen Café História.cadeirinha Disponível em <http://cafehistoria.ning.com/photo/um-dos-meios-de-transporte?xg_source=activity#!/photo/brasil-imperio-escravas?context=user
>. Acesso Novembro 2013
Angelo, boa noite.
ResponderExcluirGostaria de saber se voce tem mais alguma referencia sobre o "hospicio das carmelitas" existente perto da Aldeia da Escada em 1817. Não sabia desta construção e gostaria de saber mais sobre ele. Aguardo contato!
Atenciosamente,
Doris Bonini
Angelo, boa noite.
ResponderExcluirGostaria de saber se voce tem mais alguma referencia sobre o "hospicio das carmelitas" existente perto da Aldeia da Escada em 1817. Não sabia desta construção e gostaria de saber mais sobre ele. Aguardo contato!
Atenciosamente,
Doris Bonini