domingo, 27 de março de 2011

Mogy das Cruzes, Domingo, 27 de março de 1881

Há exatos 130 anos, circulava a edição numero cinco da “Gazeta de Mogy das Cruzes: periódico litterário, noticioso e commercial”.
Primeiro jornal da cidade, fundado em fevereiro do mesmo ano, em suas quatro páginas iniciava com um artigo a respeito de núcleos agrícolas, expondo as vantagens que o governo da província poderia vir a ter caso adquirisse as terras da “campina do Santo Ângelo que temos na proximidade d’esta cidade”. (atual Jundiapeba e Santo Ângelo).
 O artigo do jornal se referia à criação de núcleos agrícolas com base em uma lei provincial, de 1880, que admitia a formação de núcleos com menores de 12 anos para o cultivo de gêneros agrícolas, abastecimento de núcleos urbanos e assim finalizava o texto do periódico: “Estando estes lindos terrenos tanto nas proximidades da capital como de Mogy das Cruzes, com as linhas férreas -- ingleza e do norte-- que lhes ficam a dois passos, o que resta pois para que tanto terreno perdido seja utilisado?”(anos depois o núcleo veio a ser em Sabaúna, composto por imigrantes).
O jornal ainda em sua primeira página possuía uma coluna de Variedades falando sobre “Os Filantes”. 
Na pagina dois e três as colunas “Notícias”, “ Avisos”e “Secção Livre” com acontecimentos da Europa, EUA, interior da província , da cidade e avisos sobre horário de trens para São Paulo, Rio de Janeiro e Cachoeira, cotação de gêneros agrícolas no mercado da cidade, em Santos, São Paulo e café no mercado do Rio de Janeiro.
Ainda nesta pagina três, a comunicação da contratação de um Pharmaceutico como médico da câmara “para tratar dos enfermos pobres do município, sendo necessária por parte d’esses apresentarem-lhe attestado de pobreza” e a notícia da morte, em São José dos Campos, de um escravo liberto, com 120 anos, achado na mata “n’esse estado de decomposição (...) sepultado no logar onde foi encontrado”. 
Escravos ou libertos com idade avançada constituíam uma exceção na sociedade escravocrata no Brasil do século XIX, principalmente nas regiões monocultoras do sudeste (Vale do Paraíba — café), como constatou o médico Manoel da Gama Lobo em trabalho pioneiro (1865) sobre a deficiência nutricional causada pelas degradantes condições de vida do escravo.
“O trabalho excessivo, a alimentação insuficiente, os castigos corporais em excesso transformam estes entes miseráveis em verdadeiras máquinas de fazer dinheiro; sem direito de casamento, sem laço algum de amizade que os ligue sobre a terra, eles perdem o ânimo, sendo vítimas de opilações, úlceras crônicas, caquexias e todas as moléstias que são ocasionadas por uma alimentação insuficiente.” (Gama Lobo, 1865a, p.432).
Finalizando o jornal, a seção “Annuncios”, com os anunciantes da cidade, São Paulo e Vale do Paraíba.Anúncios da “Casa Bancaria” de São Paulo, Funilaria, Pharmácia, Armarinhos, Sapataria, Typografia em Mogi das Cruzes e de São José dos Campos o famoso Licor de Japecanga Iodurado, que consistia numa erva em solução de iodeto e álcool, usado no tratamento de sífilis, gonorréia, corrimento vaginal, lepra, varíola, tumores variados, reumatismo, feridas, micoses, infecções na pele e ossos, gota, tuberculose, enfim “todas as moléstias que tem sua causa na impureza do sangue”.
As letras em itálico respeitam a grafia original do documento
 

















Fontes:
DAESP, colônias caixa 4
VASCONCELOS, Francisco de Assis Guedes de; SANTOS, Leonor Maria Pacheco. Tributo a Manoel da Gama Lobo (1835-1883), pioneiro na epidemiologia da deficiência de vitamina A no Brasil. Hist. cienc. saude-Manguinhos, Rio de Janeiro, v. 14, n. 4, Dec. 200Availablefrom. access on 26 Mar. 2011. doi: 10.1590/S0104-59702007000400013.

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