sábado, 24 de dezembro de 2011

Natal e relações de gênero na Mogi das Cruzes de 1921


No Natal de 1921, o jornal A Vida, retrata em sua primeira página, uma crônica natalina que realça a solidariedade entre a população mogiana deste período: o costume de, após a Missa do Galo, os fieis se dirigirem à casa de outras famílias católicas para apreciar seus presépios, quando a “[...] cidade apresenta um movimento desusado.” Também o profano é mencionado, como o costume das crianças de apresentar sapatinhos atrás da porta de seus quartos para receberem presentes, bem como a utilização de costumes e refeições mais elaboradas. Neste espírito de solidariedade, também “[...] a pobreza faz o seu natal, dada a bela iniciativa de instituições e agremiações de caridade, que angariam donativos entre os corações piedosos, e assim, vemos também satisfeita essa classe desprotegida da sorte.”
No entanto, à aparente harmonia existente numa sociedade imaginada sem contrastes sociais, salta aos olhos quando, na mesma página em que foi publicada a Crônica de Natal, um artigo sobre o voto feminino (ainda em tramitação no Congresso), assinado por S.F.Q. revela, se não a desigualdade presente nas relações sociais, a tensão presente entre as relações de gênero. Eis o texto transcrito na íntegra.

O Voto Feminino

    O direito de voto às mulheres é – pode-se afirmar desde já – uma realidade, entre nós.
    Isto está a nos dizer o Congresso Nacional que a estas horas estuda o projeto com interesse e não está longe o dia em que o veremos nas mãos do Executivo para o seu sancionamento.
    E o belo sexo, que nos dirá? Estará de acordo com as leis governamentais que o coloca em igualdade de condições político-sociais com os seus semelhantes do sexo forte?
    Quererá a mulher deixar a sua simpática e nobre posição de mãe de família para correr às urnas e intervir na política com risco a uma tremenda catástrofe de transformar o lar numa torre de Babel?
    Sim, porque, imaginem lá. O marido político e dos aferroados; os filhos – pode muito bem acontecer – políticos e partidaristas apaixonados; todos de ideias e de partidos diferentes; si nestas condições ainda entra a mulher com sua opinião e teimosia (as mulheres são às vezes teimosas, pirracentas até por esporte), que será dessa casa?
    Imaginem numa época como esta em que os partidos fervem e as opiniões se divergem. Teríamos comida sem sal, sem tempero ou sem gordura, quando não, cabeças partidas ou divórcios em cartórios.
    Se na atualidade os ciúmes e as intrigas fazem das mulheres inimigas irreconciliáveis e mal encaradas entre si, que diremos se ainda se envolverem em questões políticas, que apaixonam e desnorteiam?
    Perderiam por certo o seu completo prestígio.
    A mulher brasileira compreende e interpreta muito diferentemente a lei que ora anda pelo Parlamento. Isto o sabemos. Ela por si acha inoportuna essa concessão de voto e abster-se-á de ir às urnas, mesmo porque não estará disposta a levar algumas pauladas nos dias de eleições.
    Quererá, é certo, conservar-se no lar, entre as carícias de seus filhinhos, que são todo seu afeto, e alimentará, como até aqui, no seu coração a verdadeira política – a Política do Amor.

    Mogi, Dezembro de 1921. S.F.Q.


Fontes

A Vida. Órgão do Partido Republicano Governista

25 de Dezembro de 1921 Ano 16, N. 687

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Observar e comprar, observar e desejar – O Natal de 1935

Uma possibilidade na produção de conhecimento histórico está na análise de periódicos locais e sua contextualização.
Na antevéspera do Natal de 1935, um dos ícones da sociedade industrial no século XX, assumia o centro das atenções:o automóvel.
O jornal “O Liberal” estampava em sua primeira página, do dia 22 de dezembro de 1935, o objeto de desejo da sociedade de consumo, que dava seus primeiros passos. Uma caravana com cinquenta carros desfilava pelas ruas da cidade, tendo a imprensa e autoridades como convidados.
Para aquele que só podia observar e desejar, os novos modelos do Ford V8 ficaria em exposição na agencia do município.
Mas a ideia pretendida de progresso como elemento fundamental para eliminar contrastes sociais, era desfeita na terceira pagina com a noticia do “Natal dos pobres” e a exposição da desigualdade presente na sociedade industrial. O Natal dos pobres era realizado desde 1911 e nas palavras do periódico “A Vida”, a realização da festa “...nas amplas varandas do Mercado Municipal … indica que nós já temos dado um grande passo na senda da civilização”. Presidia esta visão o conceito evolucionista de civilização, onde, o resultado de civilizar era o estado de adiantamento cultural e social.
As cronicas de Natal, a religiosidade da festa, presentes nas primeiras páginas de jornais locais em anos anteriores, davam lugar aos desejos de uma sociedade de mercado. As características solidarias da festa ficavam relegadas a pequenas notas no interior da edição.

Fontes:
Arquivo Histórico de Mogi das Cruzes, jornal “O Liberal” 22 de dezembro de 1935, jornal “A Vida”, várias edições.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Clique Memória Alto Tietê

Estamos lançando em nosso Blog uma nova seção, a Clique Memória. A ideia é incentivar a postagem de fotos com pequenos textos relacionados ao patrimônio cultural de nossa região. Por patrimônio entendemos não apenas fatos materiais, como construções, paisagens, objetos etc., mas também o patrimônio imaterial, como reuniões de grupos folclóricos, cantares, elementos que expressem a religiosidade e demais manifestações culturais.
A mensagem deve ser rápida e imediata, a imagem fala por tudo! Envie seu clique para o email clique@dialeticacultural.net.
Nossa primeira postagem se refere à Capela de Santo Alberto:
Capela de Santo Alberto. Itapety, Mogi das Cruzes. Comemorações Dia de Santo Alberto.