terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Sons da África no Novo Mundo II

A música de origem africana, com acento em ritmo e percussão, estende sua influência até os dias atuais, com o samba, o rock and roll, o funk, rap, jazz, axé, etc.
No Brasil Colonia, o som era uma festa e um rito. Fosse em rituais religiosos ou encontros e festas profanas, o batuque realizado pelos escravos era uma verdadeira festa rítmica, geralmente dançado por pares e originou outras danças, como o lundu que casava “a umbigada dos rituais de terreiro africano com a coreografia tradicional do fandango(...) fundia ritmo e melodia no canto de estilo estrofe refrão mais típico da África negra”1.
Por volta do final do século XVII e início do XVIII, encontramos referencias ao batuque e ao lundu em ordens policiais que se referem a “diabólico folguedo”2, ligando as danças dos terreiros a rituais religiosos africanos, sendo que este controle policial só viria terminar no século XX.
O atabaque era o instrumento fundamental nestas manifestações musicais e em outras como o jongo, presente no Vale do Paraíba, possivelmente em nossa região para os lados de Salesópolis-Paraibuna e lugares da Serra do Itapeti que recebia influência vale paraibana.
Segundo Alceu Maynard Araújo “O jongo arraigou-se na terras por onde andou o café. Surgiu pela baixada fluminense, subiu a Mantiqueira e persiste no “vale do sol” e dos formadores do Rio Paraíba do Sul: Paraibuna e Paraitinga. Entrou também pela zona da mata mineira. No Estado montanhês o jongo é conhecido por caxambu, aliás denominação dada também ao instrumento fundamental dessa dança – o atabaque grande, membrafônio ora chamado tambu, ora angona, ora caxambu. (...) Percorremos em estudos sociológicos de comunidades rurais vários municípios fluminenses e paulistas do Vale do Paraíba do Sul, onde encontramos o jongo. (...)”3
Cultos, cerimonias, festas, manifestações populares, os “tambores” ou atabaques, hoje são construídos com várias lâminas de madeira unidas por cola e aros de metal, que também é usado para prender o couro onde se percute as mãos ou pequenas varetas, mas a construção do atabaque antigo apresenta algumas diferenças e talvez a principal é que o instrumento era construído em uma única peça de madeira escavada em tronco de árvore, como nas fotos acima, do atabaque encontrado na fazenda Boa Esperança (no cômodo que servira de senzala), entre Salesópolis e Paraibuna.

Na próxima postagem mais detalhes sobre a construção deste atabaque.

Fotos:Guilherme Fernandes de Oliveira
Fontes:
Musica:Ponto de Jongo com Clementina de Jesus in Música Popular do Centro-Oeste/Sudeste, Discos Marcus Pereira, 1974
1 TINHORÃO,José Ramos. História social da música popular brasileira. São Paulo:Ed.34,1998 p.99
2 TINHORÃO,José Ramos. História social da música popular brasileira. São Paulo:Ed.34,1998 p.100
3 ARAÚJO, Alceu Maynard. Folclore Nacional. Danças, recreação e música, volume II. São Paulo: Edições Melhoramentos, 1954.
4 FRUNGILLO, Mário D. Dicionário de percussão. São Paulo:Ed. Unesp/Imprensa Oficial,2002 p. 18


segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Folias do Divino no Itapety

Dona Ana Rosa (Folia do Divino - Capela Sto Alberto, Julho 2001)


Aos 86 anos, faleceu no dia 27 de Janeiro de 2012, Dona Ana Rosa. Deixa os filhos João, José e Jarci Rosa. O enterro efetuou-se no campo santo de Santo Alberto, pertencente ao conjunto arquitetônico cultural da Capela de Santo Alberto, Itapety, Mogi das Cruzes.
O propósito é a paga de promessa, em louvor ao finado marido
O grupo em procissão dirige-se à casa de Dona Ana















Onde é rezado um terço cantado





















domingo, 22 de janeiro de 2012

Sons da África no Novo Mundo

A documentação iconográfica pode nos dar indícios da expressão musical existente em nossa região, principalmente no século XIX, através dos registros de viajantes e no caso estudado, os registros dos cientistas naturalistas Spix e Martius, que cruzaram o Vale do Paraíba e passaram por Mogi das Cruzes.
Nas muitas vilas, freguesias e fazendas o som que se ouvia era derivado de musicalidades africanas vindas com o tráfico de escravos e quando ouvidos por europeus, a vigorosa percussão dos negros causava estranheza aos gostos musicais acostumados com melodia e harmonia, como dos viajantes europeus do início do século XIX, Spix e Martius, que identificavam pássaros nas matas do Vale do Paraíba que cantavam na “escala do Si, da terceira linha clave de Sol ao Lá superior “.
A dança e a musica eram consideradas barulhentas, o atabaque e o ganzá perturbavam-nos. Em certa ocasião, que deu origem a imagem O batuque em São Paulo, Martius observara que:
“o principal encanto desta dança (batuque), para os brasileiros, está nas rotações e contorções artificiais da bacia (...). Dura as vezes, aos monótonos acordes de viola, várias horas sem interrupção, ou alternado só por cantigas improvisadas e modinhas nacionais, cujo tema corresponde à sua grosseria. Às vezes aparecem bailarinos vestidos de mulher. Apesar da feição obscena da dança, é espalhada por todo o Brasil e por toda parte é preferida da classe inferior do povo, que dela não se priva, nem por proibição da Igreja.”1
Para além do que a gravura nos passa, a análise de outro tipo de documentação nos permite observar que a música, o canto e a dança propiciavam encontros e ajuntamentos que escapavam ao controle do Estado e da Igreja, constituindo-se como verdadeiros espaços de contravenção, muitas vezes observados pelas autoridades (como mostra a gravura de Spix e Martius) e é o que se verifica nos autos de processos criminais de nossa região, onde se lê sobre as condenações como as que sofreram as anônimas Mariana, Joaquina e Fabiana, condenadas a multas e obrigadas a assinar “termo de bem viver”, pois:
” a todas estas pessoas, o dito juiz de Paz fez ver que devem se comportar melhor e com decência e não fazerem ajuntamento de pessoas em sua casa, viver honestamente a fim de não perturbar o sossego publico com batuques de viola ou de gritarias e assim mais bebedeiras, o que elas prometeram viver honestamente, e não quebrar o termo que assinam”2
Na verdade desde o final do século XVIII o batuque tinha penetração em várias regiões do Brasil. Por volta de 1786. Tomás Antônio Gonzaga, em sua obra satírica Cartas Chilenas descreveu o batuque:
“A ligeira mulata em trajes de homem
Dança o quente lundu, e o vil batuque;
E aos cantos do passeio inda se fazem
Ações mais feias, que a modéstia oculta”3
Tanto o lundu como o batuque eram manifestações rítmico-musicais negras, onde o adjetivo vil qualificava a expressão musical com vinculação direta aos escravos significando “a roda de dança negro-africana”4, por sua vez o quente lundu seria “a variante criada pelo gosto mais moderno de brancos e mulatos atraídos às festas dos negros”5.
Segundo o Dicionario de Percussão da UNESP “Há fortes indícios de que foi fundamental para o desenvolvimento do ritmo e dança do samba. O conjunto instrumental é composto por 2 ou 3 tambores tipo atabaque...”.
Na próxima postagem continuaremos a abordagem dos sons africanos, falando sobre o jongo, o atabaque e sua vinculação com a região.

Fontes:
1 LAGO, Pedro Corrêa. Iconografia paulistana do século XIX,SP, ed.Capivara, 2003,p.59
2 Arquivo Histórico de Mogi das Cruzes, Acervo do Forum, termo de bem viver
3 GONZAGA, Tomás Antonio,Cartas Chilenas. SP. Companhia das Letras, 1996 p.143
4 TINHORÃO, José Ramos. O som dos negros no Brasil, cantos, danças, folguedos: origens. SP. Art. Editora, 1988 p.42
5 idem p.42

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Congadas no Itapety

Congada de São Benedito. Capela de Santo Alberto, Itapety

domingo, 1 de janeiro de 2012

Gentes da Serra

Itapety: preguiça (Bradypus tridatylus) sendo retirada do leito da estrada do Lambari
Antigo caçador, conhecedor dos antigos caminhos e veredas do Itapety, o Sr. Ângelo Nunes de Siqueira dedica boa parte de sua vida à localização e proteção da fauna da região.