sábado, 26 de fevereiro de 2011

Revista Dialética Cultural

A Revista Dialética Cultural em seu primeiro número traz a luz vários artigos sobre a cultura e a história da região do Alto Tietê.
Seu principal objetivo é o de publicar e divulgar conhecimentos produzidos nas áreas de Ciências Sociais e História sobre a Região do Alto Tietê, SP, Brasil, envolvendo a pesquisa e o desenvolvimento interpretativo de documentos históricos, descrições etnográficas de manifestações culturais e folclóricas, estudos de meio e ensaios correlatos.
Entre os trabalhos publicados, destacam-se os estudos sobre a relação entre senhores e escravos no Brasil do século XIX, a música na Mogi Colonial, a permanência das congadas na região e a perseguição sofrida pela colônia japonesa por parte do Estado, durante a Segunda Guerra Mundial.
Além disso, apresenta uma seção especial apresentando e comentando documentos  disponíveis em arquivos públicos e resenhas.
Para acesso visite Revista Dialética Cultural
Sejam Bem-vindos.
Fonte:  Miguelzinho Dutra. Festa do Divino, 1841. Museu do Ipiranga, São Paulo.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

A Rua das Cabras: a rua da vida



Na divisa da Vila Natal com o Jardim Camila permanece o nome de um lugar especial e importante na História de Mogi das Cruzes: a Rua das Cabras.
Recentemente a Rua das Cabras recebeu asfalto e se pensou em mudar o nome da rua já sedimentado no imaginário popular.
Durante milênios o leite de cabra foi mais importante que o leite de vaca. A regra era beber leite de cabra, não o de vaca, por conta de seu superior valor nutritivo com alto índice de cálcio, vitaminas, ser menos alergênico e mais digestivo.
Segundo o Núcleo de Estudo em Pesquisa em Produção Animal (NEPPA) da Universidade do Estado da Bahia a cabra apresenta uma maior eficiência produtiva e tem um papel importante em termos de agricultura familiar e segurança alimentar.
Por conta do interesse de grandes criadores de gado e a intensificação da pecuária leiteira, concentração da propriedade da terra e formação de pastagens artificiais, houve uma mudança de posições, rebaixando a criação de cabra e o consumo de leite caprino.
Em 1878 na cidade de Mogi das Cruzes podemos constatar que a criação de cabras de leite era superior a criação de vacas de leite.
No documento “Rendas arrecadadas pela Câmara Municipal da cidade de Mogy das Cruzes, 1º de julho de 1877-30ºde junho de 1878” pode-se calcular que havia em Mogi criação de cabras de leite superior em número a criação de vacas de leite, 37 caprinos e 10 bovinos. Grosso modo a eficiência produtiva das cabras de leite deveria ser em torno de 20% superior as vacas de leite com um menor custo de criação.
Já no século XX a tradição se manteve por conta da criação e manejo muito mais fácil por parte de pequenos proprietários urbanos como Balbina Maria de Jesus ou mais simplesmente a “Dona Barbina”no Jardim Camila e outros na vila Industrial, Ponte Grande, etc.
A positividade desta criação se refletia nos bairros, onde o leite era consumido fartamente pelos habitantes do local.




















Fontes: DAESP nº ordem 1113
www.neppa.uneb.br
A criação da Cabra e da Ovelha no Brasil, p72

sábado, 19 de fevereiro de 2011

A Freguesia da Escada, mulheres, tropeiros e violeiros

A região compreendida por Mogi das Cruzes - Jacareí era a que apresentava o maior número de condutores de tropas domiciliados em relação às cidades do Vale do Paraíba.Mogi das Cruzes - Jacareí apresentava para os anos 1820 -1822 o total de quarenta condutores, Taubaté 32 e as demais cidades do vale entre dois e quatro condutores.[1]
Surgiam negociantes que trabalhavam com fornecimento de bestas e gado para o Vale do Paraíba e Rio de Janeiro, como Antonio da Silva Prado, o barão de Iguape, comerciante de gado.
Como local de pouso de tropas e exatamente entre Mogi das Cruzes e Jacareí a Freguesia da Escada possivelmente tinha tropeiros domiciliados.
Já vimos em texto anterior que a viola sempre acompanhava o tropeiro como nas andanças das tropas do Barão de Iguape onde havia um condutor chamado Cantante e nas paradas a viola era a diversão que acompanhava o lundu ou o batuque.
No pouso da Freguesia da Escada a viola era uma constante junto aos tropeiros e o ritmo do batuque e os toques de viola incomodavam as autoridades constituídas e o que era tido como o bem viver.
Na tentativa de disciplinar e regular a vida de uma sociedade desigual baseada na escravidão, tínhamos os termos de bem viver que normatizavam a moral aos olhos de um juiz de paz.
É disto que trata o presente documento de :
Mariana de Lima Camargo, Joaquina Maria de Jesus, Fabiana Maria Almeida, ” a todas estas pessoas, o dito juis de Paz fez ver que devem se comportar melho e com desencia e não fazerem ajuntamento de pessoas em sua casa viver honestamente a fim de não pertubarem o sossego publico com batuques de violla ou de gritarias e assim mais bebedeiras, o que elas prometerão viver onestamente, e não quebrar o termo que assignão, e por este termo se sujeitão a sofrer trinta dias de cadeia quantas vezes na reincidencia...”[2]
O texto em itálico respeita a grafia original do documento.

Viola artesanal de Santa Isabel feita pelo Sr. Luis que reproduz uma viola do século XIX com cravelhas de madeira

[1] - Petrone, Maria Thezeza Schorer, O Barão de Iguape, Cia. Editora nacional, SP, 1976, p. 73
[2] - Acervo do Forum, termo de bem viver, Arquivo Histórico de Mogi das Cruzes

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

A Freguesia da Escada e os juízes de paz

Por volta de 1831, a Freguesia da Escada e região tornaram-se inclusas no jovem Estado brasileiro, que independente desde 1822, formava sua base e se estruturava territorialmente através de representações concretas do poder político.
Uma circular do governo provincial, do início de 1832, dirigida aos juizes de paz das villas da Quarta estrada e Freguesias da Escada, Queluz e Bananal pedia para dar “toda publicidade” ao fato de que foram sufocadas as rebeliões que ameaçavam o Império, no entanto recomendava a necessária vigilância “contra os inimigos da paz e tranqüilidade pública de qualquer natureza que sejam”[1]
Agora transformada em distrito havia um “ Caderno de Leis Provincial pertencentes ao Juizo de Paz deste districto de Nossa Senhora da Escada, publicado nesta Capella...”[2], onde na página 6 observava que os juizes de paz e seus escrivães ficariam encarregados da leitura das leis provinciais no primeiro domingo ou dia santo, após a missa parochial defronte à Igreja. Quanto à Guarda Nacional os seus membros se revesavam no posto de juiz de paz e a Freguesia da Escada comportava oficiais da Guarda Nacional registradas em um “termo de Abertura dos Oficiais da Guarda Nacional de Infantaria da segunda companhia da Freguesia da Escada.”[3]


[1] - Acervo do Fórum, Arquivo Histórico de Mogi das Cruzes
[2] - Acervo do Fórum,Caderno de Leis Provincial pertencentes ao Juiz de Paz do distrito de Nossa senhora da Escada-13 de junho de 1835,Arquivo Histórico de Mogi das Cruzes
[3]- Termo de Abertura das Oficiais da Guarda Nacional de Infantaria da segunda companhia da Freguesia da Escada 1835, Arquivo Histórico de Mogi das Cruzes

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

A Freguesia da Escada: o pouso, tropas e tropeiros

Distante de Mogi das Cruzes alguns quilômetros, em direção a Guararema, encontramos um lugar chamado Freguesia da Escada.
Outrora um aldeamento, a Escada tornou-se Freguesia no início do século XIX e em 1806 um documento escrito por uma viúva caracteriza a Freguesia ao dizer: ”...finalmente por onde ella eo seo marido transitavão pª satisfazerem ao preceito da Alma na Fregª de NSª da Escada que lhe fica mais próxima...”[1]
Segundo a caracterização de Antônio Candido em Os Parceiros do Rio Bonito: ” a freguesia supunha um núcleo de habitação compacta e uma igreja provida de sacerdote,geralmente coadjutor do vigário da paróquia; o bairro era divisão que abrangia os moradores esparsos...”.[2] 
Em 1806, já freguesia a Escada tornou-se, em função da característica dispersa das pessoas da região, centro de atração principalmente por causa do templo religioso e a possibilidade de sociabilidades aí contidas ao agrupar as pessoas do entorno. A dificuldade para ter acesso a bens de consumo, em parte era resolvida pelas trocas que envolviam animais de trabalho (cavalo), animais de criação (galinha, porcos) e pequenos objetos (esporas, facas, etc.).
O contato com outras regiões se fazia através de viajantes que ali passavam.
Havia quatro tipos de alojamento[3] para aqueles que se punham a viajar pelas estradas no século XIX e a Freguesia da Escada era o local de parada de tropas e tropeiros.
O alojamento mais simples, o pouso compreendia apenas o terreno onde os tropeiros poderiam acampar para passar a noite e dar água aos animais desde que com o consentimento do dono do lugar.
O rancho era uma construção erguida com esteios de madeira da região e coberto de sape, onde a carga estaria protegida da chuva, ao mesmo tempo, servia de cama ou o couro que protegia a carga era estendido no chão de terra batida para se dormir, as armas ficavam encostadas nas colunas de sustentação e os arreios e quinquilharias eram pendurados nas vigas. Encostada em um canto havia a viola de um tropeiro cantador. 
A venda compreendia a existência de um vendeiro e era um local que atendia tanto os viajantes e tropeiros, como aos moradores do local ao proporcionar alguns produtos básicos como a carne-seca, fumo de corda, arreios, sal, açúcar, alho, livros de missa, etc.
Vez por outra gatos e cachorros circulavam pelas vendas dividindo espaço com os freqüentadores.
Nas acomodações que eram péssimas havia geralmente uma cama com fibras trançadas e uma gamela que poderia ser usada como recipiente com água ou escarradeira. Por fim oferecia-se hospedagem também nas estalagens ou hospedarias onde se encontravam quartos de terra batida e jiraus com colchão.

Fontes:
[1] Acervo do Fórum, Arquivo Histórico de Mogi das Cruzes
[2] CANDIDO, Antônio, Os parceiros do rio bonito, Livraria Duas Cidades, 8 ed.1998, S.P., p.63
[3] FRIEIRO, Eduardo-Feijão, Angu e Couve,ed. Itatiaia,MG, p.100, 101

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Deus não é culpado nem a natureza

As águas do verão seguem o roteiro de todo ano: enchentes, estragos, vítimas, que colocam em cheque nosso modelo de desenvolvimento e a (re) produção do espaço urbano.
São construídas marginais, avenidas, ruas ao longo da várzea dos rios. Nossa sociedade privilegia a produção do capital materializado numa rede de circulação e comunicação.
A especulação imobiliária e os interesses fundiários são responsáveis pelas tragédias sociais, que não são fenomenos naturais como as emissoras de televisão, jornais e algumas autoridades comumente apontam.
Não é uma situação nova ou de alguns anos. É muito antiga e o problema só se agrava.
Ano Novo 1º de Janeiro de 1850, terça-feira, o dia da circuncisão do Senhor, Lua cheia se movendo lentamente em direção ao seu apogeu no dia 12, segundo o calendário do Almanak Laemmert para 1850. Mas a situação não dependeria da posição dos astros no céu.
Neste dia à tarde, a cidade de São Paulo vivenciou, segundo a comissão de vereadores encarregada do levantamento de prejuízos causados pela enchente de 1º de janeiro de 1850, “uma calamidade athe então nunca vista entre nós” ou pelo relatório do presidente da província de São Paulo em 1850, este dizia:”Nesta Cidade uma espécie de dilúvio, causado pela chuva copiosissima da tarde de 1º de janeiro, chuva como aqui não há memória de ter-se visto igual...arrasou e estragou não pequeno numero de casas.(...)
A segurança e consolidação do açude (do Jardim Público) é de absoluta necessidade:se for arrombado causará os maiores estragos, e não deixará em pé casa alguma em todo o Valle do Anhangabaú”.
Os moradores do bairro do Bexiga, também atingidos, em abaixo assinado representavam à Câmara Municipal contra a pretensão de um particular que pretendia construir junto a ponte do Piques, retendo as águas e impossibilitando sua livre passagem. No mesmo documento retratavam a obstrução do ribeirão Anhangabaú pelo lodo e cobravam as providencias prometidas pelas autoridades e não cumpridas após o “dilúvio” de 1º de janeiro de 1850.




















Fontes:
Arquivo Municipal da cidade de São Paulo
UOL. Galeria exibe 55 imagens de enchentes em São Paulo. Entretenimento. Disponível em <http://entretenimento.uol.com.br/ultnot/2010/08/18/galeria-exibe-55-imagens-de-enchentes-em-sao-paulo.jhtm>. Acesso 03 Fev 2011.