sexta-feira, 27 de maio de 2011

Entre salas de aula e corredores II: o Grupo Escolar em 1914

A escola pública durante o Império foi, na maioria das vezes, a própria casa do professor, sem materiais e moveis escolares, sem espaço para acomodação de alunos, situação agravada com as constantes epidemias do século XIX, principalmente a varíola, que gerava a situação relatada pelo inspetor literário do 11º distrito que no inicio dos anos 1890 dizia o seguinte: “... pela epidemia que ameaçava victimar de preferência os lugares servidos por estrada de ferro, entendi de meo dever começar por elles os exames a fim de libertar das salas acanhadas das escolas as crianças perigosamente acumuladas”.
No final do século XIX, já no período republicano, entre as pessoas ligadas a educação passava a ser dominante a idéia de um espaço próprio para a atividade escolar, como atestava o relatório de um professor da região em 1893, sobre a impossibilidade de o professor lecionar programas diversos “nas classes e subclasses que o professor é obrigado a ter em sua escola” talvez melhore com a lei “que estabeleceu a permissão de reunir-se em um só edifício as escolas de uma localidade...”.
Desta maneira em 1896, Mogi das Cruzes, agora pertencendo ao 15º distrito literário, contava com um grupo escolar instalado em edificações adaptadas para abrigar um prédio escolar, todavia a escola dotada de um prédio próprio com uma identidade direcionada para a educação só viria a materializar-se em 1914 com uma arquitetura escolar voltada para a monumentalidade com a intenção de sinalizar e simbolizar as finalidades sociais, morais e cívicas da educação pública, assim como as realizações dos governos republicanos no Estado de São Paulo.
Rosa Fátima de Souza em “Templos de Civilização: a implantação da escola primária graduada no Estado de São Paulo” aponta que:
O edifício-escola deveria exercer (...) uma função educativa no meio social.
Na arquitetura escolar encontram-se inscritas (...) dimensões simbólicas e pedagógicas.O espaço escolar passa a exercer uma ação educativa dentro e fora dos seus contornos”
Se no Brasil colônia a Igreja, casa de Câmara, cadeia e o pelourinho ocuparam funções na organização do espaço público, agora, no período republicano o grupo escolar ocupava o centro dos núcleos urbanos ordenando a vida cotidiana em uma sociedade marcada pela idéia de progresso. O grupo escolar se juntava a Igreja Matriz, outros prédios públicos, casas de chefes políticos locais, (geralmente do PRP) e coronéis.
A escola seria o “local de formação do cidadão republicano” e o Relatório Escolar de 1911 nos mostra que “a construcção de edifícios escolares, tiveram estes, notável incremento, estando em construção...” três prédios na capital e vinte e seis no interior, entre eles o grupo escolar de Mogi das Cruzes, inaugurado em 1914 e que anos mais tarde recebeu o nome de Grupo Escolar Coronel Almeida.
As letras em itálico respeitam a grafia original do documento
Fontes: APESP, lata - Instrução Pública 4923, Annuário do Ensino do Estado de São Paulo, publicação organizada pela Directoria Geral da Instrucção Pública 1911-1912

domingo, 1 de maio de 2011

Entre salas de aula e corredores: o Grupo Escolar em 1896

Vimos nas duas postagens anteriores, a situação da educação na cidade de Mogi das Cruzes no século XIX, a política educacional provincial que criara um departamento de Instrução Publica e a atuação do inspetor geral de instrução pública percorrendo as escolas da província.

Na terceira postagem sobre educação o assunto é a criação dos grupos escolares e mais especificamente a criação do Grupo Escolar de Mogi das Cruzes em 1896.

Como já foi dito, nas nações que se industrializavam a educação assumiu uma nova postura, tendo significado político e econômico, interferindo no complexo processo de desenvolvimento que incorporava métodos de aprendizagem em sociedades que atravessavam a revolução industrial. Na Inglaterra, Alemanha e França 80% a 90 % das crianças freqüentavam a escola em 1890.

Contrariamente, no Brasil, o recenseamento de 1872 apontava 9 milhões de habitantes da população livre, com índice de analfabetismo de 78% nos grupos com idade de 15 anos ou mais.Em 1878 no país, contavam-se 15561 escolas primarias que reuniam 175 mil alunos[1].

O Inspetor Literário do 11° Distrito que abrangia a região de Mogi das Cruzes escreveu em seu relatório de 1885 sobre a qualidade ruim do ensino público e a exclusão de grande parte da população, onde “...o governo não cria escolas para serem freqüentadas por uma fração do povo, por dous terços apenas da população escolar, ficando um terço na ignorância e obscuridade sem justificar o motivo”.

Também a situação do professor era objeto de relatórios onde se expunha os problemas enfrentados pelos professores públicos. O relatório de 1886 apresentava o seguinte teor: ”É nomeado um professor público, tira seu título, vai procurar uma casa em que estabelecer a escola, e logo se vê em sérias dificuldades...”

Com o advento da República, esta recebe como herança, um ensino público ineficaz e precário.

Na tentativa de estabelecer um programa de educação, uma reforma educacional de âmbito estadual é realizada em São Paulo em 1892 por Caetano de Campos e ligado a esta reforma esta a criação dos grupos escolares que reuniam em um só local varias escolas isoladas.

Estava aberta a possibilidade de criação dos grupos escolares e, ao mesmo tempo, acabar com as escolas que funcionavam nas casas onde os professores residiam e apresentavam problemas de acomodação dos alunos por absoluta falta de móveis escolares, inadequação do espaço físico com problemas de acomodação dos alunos, ausência de métodos de ensino e literatura escolar e a falta de objetos escolares como lousa, papel, mapas, material para escrita, etc.

Em 1895 Mogi das Cruzes contava com 16 escolas isoladas que foram reunidas em 1896 no primeiro Grupo Escolar da cidade em prédio adaptado para esta função.

Continuando no tema Educação, na próxima postagem será abordado a arquitetura escolar e a construção de um prédio próprio para abrigar o Grupo Escolar de Mogi das Cruzes.

As letras em itálico respeitam a grafia original do documento

Fontes: APESP, latas - Instrução Pública, 5065 e 5066


[1] Holanda, Sergio Buarque. História Geral da Civilização Brasileira, vol.6. Difel, SP, 1971