domingo, 30 de outubro de 2011

Anjos e Demônios. O caso Landell

Na ultima postagem sobre o Padre Landell recordamos que em 1909 o Arcebispo Metropolitano de São Paulo relatava: ...Encontramos a parochia ainda sob a lamentável impressão de dois gravíssimos escândalos que aqui se deram...” e possivelmente se referia ao exorcismo praticado pelo Pr Landell.
A questão do exorcismo nos remete a uma série de observações, escritos científicos-filosóficos e a uma invenção de Landell, contemporânea a sua presença como pároco em Mogi das Cruzes.
Para aprofundar a compreensão de sua estada em Mogi das Cruzes devemos rememorar que Padre Landell é lembrado como o inventor do radio, mas seria uma injustiça se apenas esse invento lhe fosse atribuído.
No início dos anos 1980, um grupo de trabalho de engenheiros de telecomunicação da Telebras considerou Padre Landell como precursor da Televisão, do Teletipo e do controle remoto por rádio1 e além destes inventos deixados em croquis, podemos lhe atribuir o estudo da transmissão de voz através de fontes de luz.
A produção de conhecimento por parte do pároco era imensa e entre seus interesses intelectuais estava o de compreender o que envolve o ser humano e não deixava de tratar de uma aproximação entre ciência e religião.
A conciliação entre ciência e religião não é um tema novo e recentemente foi tratado no filme Anjos e Demônios. Sobre o tema assim se manifestava Landell no início do século XX.
(...) Santos Dumont está bem, porém o seu colega contemporâneo vive esquecido porque cometeu um crime, o de querer sair da sacristia para mostrar ao mundo que a religião nunca se opôs ao progresso da humanidade(...)”
No caso de exorcismo em Mogi das Cruzes, Landell afirmava que o havia realizado com o acompanhamento de "instrumentos e aparelhos" científicos. Ora um de seus inventos que foi contemporâneo de sua estada na cidade era a bioeletrografia ou fotografia Kirlian como ficou conhecido mais tarde esse tipo de fotografia, descoberta na URSS em 1939, sendo portanto, a descoberta de Landell bem anterior.
Nesse tipo de fotografia que mostraria a energia que circunda a matéria (sem a aceitação unanime de cientistas), chamou de perianto os efeitos eletroluminescentes, e chegou entre outras à seguinte conclusão, sobre o perianto e fotografia:”que, se esse indivíduo estiver sob a ação do hipnotismo ou de qualquer outro estado anormal capaz de mudar-lhe a personalidade , o seu perianto,nesse caso, apresentara as feições da personalidade que ele supõe ser no momento.”2
Mais tarde, dando sequencia ao processo de suas deduções escreveu:”Nestes estados, notam-se modificações mais ou menos pronunciadas de personalidade, seja pelo físico, seja pela moral, porque, geralmente falando, ele toma o porte, a atitude, os gestos, a voz e, até, os mesmos defeitos ou imperfeições característicos dos indivíduos que ele supõe ser. Ele dá corpo, vida, expressão, numa palavra, a todos os fantasmas da imaginação, e com eles conversa, come, ri e se diverte, como o faria na realidade se se achasse em tais circunstancias e em seu estado normal.”3
Os fantasmas da imaginação, nossos anjos e demônios que Landell ousou compreender e não foi compreendido.
O país perdeu.

 
Fontes:
Jornal “A vida”, Mogi das Cruzes 1907
Cúria Diocesana de Mogi das Cruzes
Almeida, Hamilton.Padre Landell de Moura-Um herói sem glória, editora Record, 2006


1Almeida, Hamilton.Padre Landell de Moura-Um herói sem glória, editora Record, p.306
2Idem, p.141
3Ibidem, p. 192

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