sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Capelas e Ermidas: a Capela do Caetano

Normalmente localizadas em locais distantes das povoações urbanas, nos bairros e locais ermos, são bastante comuns nas antigas Casas Grandes do Nordeste, nas Fazendas Mineiras e Paulistas, dentro ou no entorno das sedes.
Conhecidas como "Capelas de Santa Cruz", no Vale do Paraíba e entorno, muitas serviram para marcar a fundação de um vilarejo ou bairro, tendo sua origem relacionada à proteção de santos padroeiros, de modo que as santas-cruzes, como são denominadas as capelinhas de beira de estrada, apareceram na sequência. 
 
Nelas eram colocadas imagens quebradas, pois acreditava-se não ser de bom presságio possuí-las dentro de casa ou simplesmente jogá-las. 
Estas pequenas capelas domésticas, ou ermidas, para serem consagradas ao ofício religioso, necessitavam de um procedimento burocrático que envolvia as autoridades eclesiásticas, geralmente extremamente moroso e nem sempre levado a efeito. Este distanciamento da tutela do clero, provavelmente deu margem à inserção de marcas da religiosidade popular e do papel social destes oratórios.


A Capela de Santa Catarina, ou simplesmente "do Caetano" reflete bem esta conjuntura:
Localizada no bairro rural do Itapeti, situada numa encruzilhada, entre a Estrada do Lambari, Municipal e Goiabal, sua construção remete ao final do século XIX, pelo Sr. Caetano de Almeida. Construída em taipa, com aproximadamente 12 metros quadrados. Seu salão abriga pequenos oratórios, aonde são depositados pela população local, imagens de santos protetores, pequenas cenas bíblicas e objetos reveladores de intenso sincretismo religioso, como orixás, caboclos e imagens de "santos expurgados" pelo catolicismo oficial.
Tradicionalmente, sempre no último sábado do mês novembro,  a população do bairro celebra no local, culto à Santa Catarina.


Referências

Museu do Oratório. Oratórios e Ermidas.  Casa Capitular da Igreja N. Sra. do Carmo,Ouro Preto, MG. Disponível em http://www.oratorio.com.br/port/colecao_txt.asp?id_categoria=5&id_subcategoria=0.

ALCANTARA, Ailton S. de. Paulistinhas: Imagens sacras, singelas e singulares - São Paulo, 2008. Dissertação (Mestrado) – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Instituto de Artes. Orientador: Percival Tirapeli, p. 61.
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quarta-feira, 7 de setembro de 2011

A gruta de Santa Teresinha



A serra do Itapeti, desde o século XVII teve a presença e o trânsito da religião junto ao avanço da colonização rumo ao Vale do Paraíba.

Já nos anos 1800 a religiosidade popular esteve presente na habilidade dos santeiros que moldavam o barro e espalhavam imagens de culto doméstico, denominadas paulistinhas.

Pelos caminhos antigos do Itapeti, em direção a cidade de Mogi das Cruzes, havia oratórios de beira de estrada ou pequenas e diminutas capelas numa caminhada de horas das paragens “detrás da serra” até o centro urbano. Era utilizada uma trilha que descia onde é hoje o Jardim Aracy ou a vereda que ia dar no lugar que conhecemos por bairro do Rodeio, além de outras mais.

É do ano de 1888, o relatório da Comissão Central de Estatística da Província de São Paulo que, ao descrever o município de Mogi das Cruzes dizia:
“ Existe no município, no alto do Itapety, uma gruta interessante, que é freqüentemente visitada por muitas pessoas”.

O “Almanaque de Mogi das Cruzes”, trinta anos mais tarde assim se referia ao lugar, ao lado da trilha de tropeiros, que recebia a visita das “gentes da cidade”: 

Penetrando-se nela, desce-se uma escada natural, de dez degraus de pedra (...).Acabando-se de descer a escada, encontra-se outra cavidade de abóboda baixa onde corre uma água pura e cristalina(...).Esse é outro recanto, muito apreciado pelos mogianos...que aí vão em numerosos grupos”.

Provavelmente por volta dos anos 30 foi construído, acima da entrada principal da gruta, um oratório dedicado a Santa Teresinha, freira carmelita canonizada em 1925.

A partir deste momento a gruta passa a exibir, além de seu atrativo natural, uma função religiosa, incorporando a peregrinação e as orações.
As fotos dos anos 30, 40 e 50 mostram o grande número de pessoas que subiam a serra em domingos e feriados como o 1º de Maio.








Hoje no alto do Itapeti, com vista para a cidade, repousa no alto de uma rocha um oratório com a imagem semi destruída de Santa Teresinha.

Lugar conhecido e freqüentado desde o final do século XIX, no século XXI a intolerância destruiu o rosto da imagem, que não olha mais na direção da cidade.

Fontes:

AESP
Arquivo Histórico de Mogi das Cruzes
Attwater, Donald.Dicionário de Santos, 2ºed.pag.274

Veja mais fotos da gruta no Arquivo Digital Mogiano

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Mogi oculta: lugares e pontos de devoção popular

Mogi se orgulha de sua História de 400 anos, mas se esquece muito rápido desta mesma história. Uma cidade quatrocentista que mostra em seu patrimônio material, aspectos ocultos e simbólicos, raros à percepção da população.
É importante para a região discutir a História local em um contexto onde, a região do Alto Tietê, que atravessa um crescimento demográfico grande, gera demandas das populações novas que não conhecem o lugar, sua cultura e sua história, assim como dos habitantes antigos, que se voltam para a manutenção de sua identidade, por conta deste crescimento da cidade e outros fatores que, em uma sociedade globalizada favorece a fragmentação destas mesmas identidades.
Com a modernidade estes símbolos passam despercebidos pelos cidadãos. Monumentos como o Obelisco, a Gruta Santa Terezinha,  ou mesmo os vitrais expostos na Catedral de Sant’Anna, são artefatos excluídos da  percepção do mogiano.
Inúmeros fatos contribuem para este cenário de perda cultural, tais como, a poluição visual e o desenvolvimento urbano que acarretam desvios de olhares sobre uma cidade que enraíza em seu intimo aspectos esquecidos, ocultos e desconhecidos.
Trabalhar a História, num sentido amplo, significa conhecer e revelar o passado. Mas podemos perguntar: há uma seleção do que se deve conhecer? Quem seleciona e a quem serve esta seleção?
Para melhor desenvolver esta linha de raciocínio, podemos pensar no significado de três palavras: velar, desvelar e revelar.
Se procurarmos o sentido de velar, vamos encontrar a definição, esconder, dissimular, prejudicar a formação da imagem. Assim, para conhecer uma dada realidade, necessitamos, obrigatoriamente, passar pelo estágio de desvelar que significa aclarar, elucidar, para então atingirmos o sentido de revelar, significando descobrir, mostrar, divulgar.
Há um esquecimento, e neste sentido um ocultamento, onde o conhecimento histórico é sempre expressão de uma postura política: se de um lado são contraditórios (como a própria história), por outro, são percebidos segundo o tempo, o lugar, a classe e a ideologia (e por isso são ocultados). Cabe portanto, ao historiador, procurar evidenciar estes fatos, sem deformações e ocultações, como evidenciado na iconografia memorialista, referente ao quarto centenário da cidade, ao  apresentar uma certa noção de progresso e desenvolvimento, viável apenas a partir de uma representação dos tipos humanos presentes na região.
De outro lado, em pontos de devoção popular na cidade de Mogi das Cruzes, o catolicismo tem uma função mais social do que religiosa, exibindo um caráter utilitarista, capaz de gerar um sentimento de identidade e também relações de poder.
Aguardem, nas próximas postagens continuaremos a explorar esta mesma temática - esquecimento/ocultamento - com novos documentos e imagens reveladoras deste imaginário.
Antonio Sérgio Azevedo Damy
Angelo Nascimento Nanni
Glauco Ricciele P. L.C. Ribeiro
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