sábado, 29 de dezembro de 2012

29 de dezembro de 1957: Mogi das Cruzes e a política indígena


Recentemente a televisão resgatou a trajetória dos irmãos Villas Boas, defensores intransigentes da cultura indígena e intelectualmente os criadores, junto a outras personalidades do cenário politico, cultural e cientifico, como Darcy Ribeiro, da reserva indígena “Parque Nacional do Xingu”, em 1961.
Essa vitória em 1961, era o desfecho da luta iniciada décadas antes pela preservação dos habitantes naturais do Brasil e que trouxe Orlando Villas Boas à cidade de Mogi das Cruzes, nos dias 28-29 de dezembro de 1957, anunciado-se no jornal da cidade, a concorrida palestra.
Dando sequencia a ações que visavam trazer ao grande público o conhecimento em torno das etnias indígenas e a criação de reservas que os possibilitassem viver, era o que trazia Orlando Villas Boas à cidade, acompanhado do deputado socialista Germinal Feijó, amigo de Mário de Andrade e de Antônio Cândido, que o considerava uma pessoa extremamente combativa.
Para entender a presença de Villas Boas na cidade, voltemos para meados do século passado, mais precisamente nas décadas de 40 e 50, quando parte da etnologia brasileira acreditava que os indígenas e sua cultura estavam destinados à extinção.
Contrario a esta crença, o Serviço de Proteção aos Índios divulgava, a partir de 1942, as suas ações de preservação e instalava uma seção de estudos para pesquisar as sociedades indígenas, sendo que Darcy Ribeiro ampliou essas ações de conhecimento das sociedades indígenas ao inaugurar em 1953 o Museu do Índio no Rio de Janeiro.
Nas ações de campo os irmãos Villas Boas estavam presentes no Alto Xingu desde 1943 com a expedição Roncador-Xingu.É de Orlando Villas Boas as palavras a seguir:Em 1940, as frentes de seringueiros [extratores da seiva dos seringais,], no rio Xingu, no rio Iriri, no rio Iriri alto e no rio Iriri baixo, costumavam entrar nas aldeias indígenas e davam arsênico com farinha para fazer o índio desocupar a área. Nós vimos, assistimos, até muito pouco tempo [atrás], na década da 60, seringueiros de Mato Grosso metralhando índios nas aldeias de [índios] Cinta-larga em Aripuanã [município do estado de Mato Grosso, localizado na Amazônia]. Nós assistimos e foi feito um processo que foi encaminhado até o Serviço Nacional de Segurança, de pioneiros a mandado de seringalistas [seringueiros, donos de seringais], que pegavam índias, abriam, amarravam as pernas e cortavam de facão.
Dos irmãos Villas Boas, Darcy Ribeiro escreveu que “Tinham uma consciência aguda de que, se os fazendeiros penetrassem naquele imenso território, isolando os grupos indígenas uns dos outros, acabariam com eles em pouco tempo. Não só matando, mas liquidando as suas condições ecológicas de sobrevivência.”
Segundo o próprio Orlando, três lemas pautaram sua ação e de seus irmãos: 1) não há lugar para o índio na sociedade brasileira de hoje, 2) o índio só sobrevive dentro de sua própria cultura, 3) já que o civilizado não pode levar nada de bom ao índio, pelo menos respeitemos sua família.
Hoje, perto de Mogi, em Bertioga, assistimos a situação dos índios Guarani do Rio Silveiras, tentando sobreviver, em meio ao contato com uma civilização que mais tira do que lhes dá.


Fontes
Arquivo O Diário de Mogi, dezembro de 1957 - fevereiro de 1958. 


RIBEIRO, Darcy. Confissões. São Paulo: Companhia das Letras, 1997, p. 194
http://www.revistadehistoria.com.br/secao/artigos/politica-indigena
PONTES, Heloisa. Entrevista com Antonio Candido. Rev. bras. Ci. Soc., São Paulo, v. 16, n. 47, Oct.2001. http://dx.doi.org/10.1590/S0102-69092001000300001 

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